7 de outubro de 2011

A genialidade e a época

A genialidade e a época
Texto extraído do site:
http://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/genialidade-e-%C3%A9poca-214857181.html
Autor: Walter Hupsel

Morreu, aos 56 anos de idade, Steve Jobs, fundador junto com o amigo Steve Wozniak, de uma das empresas mais importantes das últimas décadas, a Apple. Jobs foi um visionário que, com seus produtos, mudou a forma que as pessoas tinham de interagir com o mundo ao seu redor.
Na década de 1980 criou o Apple II, um computador pessoal realmente usável, simples, que não requeria conhecimento de eletrônica e informática. Além deste, como se já não fosse suficiente, inventou gadgets revolucionários como o iPad, o iPhone e o iPod. Cada um, à sua maneira, transformou o mercado, ditou tendências, criou nichos e necessidades. Sem falar em programas como o iTunes.
Essas inovações da empresa de Jobs (dentre outras) o colocam como um dos maiores empresários da história. Em décadas ainda estaremos ouvindo falar dele, de como suas invenções foram revolucionárias, como transformaram o mundo. Sua genialidade e criatividade ainda será pauta de livros de administração e os casos estudados em salas de aula mundo afora.
Parece que os anos 2000 tiveram seu Henry Ford. O modelo T da empresa que leva seu nome foi fundamental na popularização do automóvel e moldou a sociedade do século 20. Como Ford, Jobs também oferecia poucas opções ao seu consumidor. Se nós podíamos escolher qualquer cor de carro desde que fosse preta, as invenções da Apple também primavam pela restrição de modelos e cores.
Mas as semelhanças param aí. O sonho de Ford era que seus funcionários pudessem comprar os carros que fabricavam. A Apple sempre fez questão que seus produtos simbolizassem status, diferenciação. Se os trabalhadores de Henry Ford podem comprar o carro, os da Apple são submetidos a jornadas de trabalho que lembram escravidão. Não são raros os suicídios na fábrica chinesa que produz estes caros e exclusivos gadgets.
Reportagens abundam sobre as condições de vida e de trabalho desses funcionários, que, não raro, passam o dia em completo silêncio por falta do que falar. Sem vida cotidiana, sem assunto, sem conversa, sem interação com o colega. Quanta ironia! Os produtos que trouxeram mais interação são fabricados por aqueles que não têm um centímetro de vida social.
Se Ford representava o sonho do século 20, da metrópole, da incorporação das massas ao mundo do consumo, Jobs sintetiza como ninguém este novo mundo em que vivemos: um mundo que não sabe para onde vai, que não tem mais projetos de futuro, que não "sonha", cuja separação entre trabalho e tempo livre se perdeu, seja nos gadgets que nos mantêm informado todo o tempo (aumentando nosso "capital social" e "empregabilidade"), ou no trabalhador desprovido de garantias legais, livre, que "livremente" escolhe se submeter a condições sub-humanas.
Foi o gênio da nossa época.

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